Belas e perigosas são as árvores ornamentais das ruas do Funchal. Da copa das árvores caem para as ruas e passeios pétalas de flores que, não raras vezes, provocam quedas a transeuntes.

Se tivermos em conta ruas inclinadas como as da Pena, o perigo é ainda maior. O efeito desagradável da sola dos sapatos ‘colar’ ao chão é apenas uma consequência a que se junta, por exemplo, os carros ‘melados’ estacionados sob as copas das árvores, por exemplo, no bairro da Nazaré.

Mas o problema não são apenas as pétalas mas o que vem nelas acoplado: uma espécie de ‘cola’, ‘goma’, ‘melaço’, provocado pelas fezes de parasitas, designadamente da cochonilha (piolho).

O alerta foi deixado na rede social ‘Facebook’ pelo ex-director regional da Agricultura, Manuel Pita.

“As ruas do Funchal estão intransitáveis, colando as solas dos sapatos de quem transita debaixo das tipuanas e dos jacarandás, fruto das pragas que parasitam as suas copas verdejantes […] Para quando uma intervenção dos serviços da Câmara Municipal do Funchal para acabar com a “goma” dos passeios das ruas desta cidade?”.

O repto decorre de duas situações.

Por um lado, os serviços técnicos do Governo Regional deixaram de importar/multiplicar em laboratório joaninhas que combatiam as pragas, designadamente nos jcarandás.

Por outro lado, os serviços camarários deixaram de pulverizar, com a frequência com que o faziam no tempo do Eng. Costa Neves, as copas das árvores com um produto químico (espécie de sabão) para limpá-las, assim como as ruas e passeios, do efeito ‘melado’ provocado pelas pragas.

Recorde-se que os jacarandás e várias plantas que ornamentam passeios e áreas ajardinadas da cidade do Funchal, ciclicamente, ficam infestados pela cochonilha.

Há alguns anos, uma árvore foi mandada abater na Rua Pedro José de Ornelas, em frente à casa onde mora Alberto João Jardim.

Há muitos anos, quando Manuel Pita era director regional de Agricultura, para combater esta praga, foi importada do Quénia, uma joaninha (Hyperaspis pantherina Fürsch).

Este predador foi utilizado, com sucesso, em programas de luta biológica, em vários países de África, no Perú, Hawai e na Ilha de Santa Helena.

Na Ilha da Madeira, desde Julho de 2002, a joaninha foi criada em laboratório, no Bom Sucesso, e largada em jacarandás infestados com o objectivo de combater a cochonilha, através da luta biológica clássica.

Foram feitas largadas e os programas foram monitorizados para verificar a aclimatação do predador.

A Madeira não inventou nada, apenas bebeu conhecimentos e trabalhou com base no sucesso da ilha de Santa Helena.

O trabalho biológico foi suspenso e a anterior Câmara do Funchal optou por combater os efeitos (pulverizando as árvores e lavando as ruas) mas não se eliminaram as causas.

Contactado pelo Funchal Notícias, Manuel Pita lamentou que o programa das joaninhas tenha sido suspenso pela visão errada de que a cochonilha era um problema de árvores ornamentais e não de agricultura.

Lembra que a cochonilha também ataca espécies agrícolas.

Além disso, não se pode baixar os braços perante pragas como esta ou outras do género do nemátodo do pinheiro ou do escaravelho das palmeiras.