Fernando Letra demitiu-se do Bloco de Esquerda e critica falta de democracia interna

FERNANDO LETRA
Fernando Letra (o primeiro à direita) lamenta a falta de democracia do BE.

Foi uma saída do Bloco de Esquerda na Madeira que passou despercebida. Mas Fernando Letra era um quadro ativo do BE que “bateu com a porta” por altura das eleições regionais. Este membro da Comissão Coordenadora Regional e da Comissão Nacional Autárquica, até aos primeiros meses deste ano, apresentou a sua demissão ao partido, após 15 anos de ligação partidária.

Ao Funchal Notícias, Fernando Letra explica que aplicou seguiu o adágio popular: “Quem está mal, muda-se”. Várias foram as situações de incompatibilidade que ditaram a saída deste também ex-deputado do BE. Como exemplos, o ex-dirigente partidário enumera: “A comissão coordenadora decidiu uma coisa e a(s) reunião(ões) de aderentes instrumentalizadas impuseram outra, curiosamente onde a quase maioria das pessoas era da comissão coordenadora. Como não gosto de golpes palacianos, nem estou na política para proveito próprio, acumulando cargos atrás de cargos, pus-me logo de fora de qualquer candidatura, e assistindo a um triste episódio de entronização de quem pouco tempo antes queria levar o BE-M para o abismo…”

As eleições legislativas de 29 de março mostraram o crescimento do BE: o ansiado regresso à Assembleia com um grupo parlamentar de dois deputados, Roberto Almada e Rodrigo Trancoso. Mas Fernando Letra alerta para outra leitura dos acontecimentos: “Perante os resultados das eleições legislativas regionais até parece que eu estava errado – e se calhar estou -, mas continuo convencido que o ‘êxito’ neste acto eleitoral se deveu muito a factores externos (europeus, nacionais – menos – e regionais) e pouco à lista apresentada”.
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O ex-deputado à Assembleia pelo BE incompatibilizou-se com a liderança.

A escolha dos candidatos para a formação da lista eleitoral foi também um foco de discordância e falta de debate interno. Fernando Letra explica-a: “Após desenvolvimentos posteriores, até com outros camaradas que questionaram determinadas opções, como o lugar de cabeça-de-lista para as próximas eleições legislativas nacionais, que, segundo o que sei, já está decidido pelos órgãos nacionais – pelos vistos, aqui, os aderentes regionais já nada terem a ver com o assunto – e que não cumpre, nem de perto, nem de longe, os mínimos requisitos para o lugar, decidi que a minha presença no movimento não era benéfica para qualquer das partes e que era tempo de partir para outra”.

O também ex-membro da Assembleia Municipal  vê com algumas reservas o futuro do BE em Portugal se não forem tomadas medidas eficazes. “Ao nível nacional, se não mudam de liderança antes das ‘legislativas’ (Mariana Mortágua, por exemplo,), vão ser novamente penalizados nas urnas e perdem mais alguns deputados, independentemente dos ventos de mudança que tentam soprar de alguns países do sul; ao nível regional, o estado de graça vai-se manter durante os próximos três anos, grupo parlamentar já não havia há uns anos, a situação financeira vai melhorar e já se conhece a velha questão do pão e da razão, as benesses distribuídas pelos apoiantes… e as vozes internas que se manifestarem contra alguma situação – por exemplo, por que é que não se fala agora de rotatividade? – serão silenciadas das maneiras necessárias”.

Hoje, Letra mantém as funções de secretário da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, como independente.