O fim do “acagaçamento”

gil_canha_iconMuitas pessoas questionam-se das razões que levaram a este súbito aparecimento de inúmeros partidos e coligações a concorrerem às próximas eleições legislativas regionais.

Esta fartura de candidatos tem uma explicação muito simples e não é necessário vasculhar os manuais de sociologia política ou quebrar a cabeça com suposições muito elaboradas, pois a resposta é muito elementar: – o fim do “acagaçamento”.

O povo madeirense, na sua infinita sabedoria, evitou sempre utilizar o termo “cobarde” por ter uma carga pejorativa muito forte e “medroso” porque é uma palavra muito desfalecida para caracterizar uma pessoa que tem de facto pavor. Então, o imaginário popular inventou a palavra “acagaçado”, que no fundo é uma pessoa que tem tanto medo que até é capaz de borrar as calças, o que torna o acto de ter medo numa coisa meio tragicómica.

E porque razão o fim do “acagaçamento” permitiu a libertação dos “acagaçados”, que deixaram de ser gente cheia de medo e pânico e passaram repentinamente para destemidos e aguerridos heróis, uma nova espécie viril de “Tércios” ressuscitados, como aqueles que na Guerra Civil Espanhola corriam para o combate gritando “Viva la muerte”, ou mesmo, uma nova horda viking, entoando cânticos guerreiros a caminho de Valhala, o místico destino dos heróis tombados em combate?

A explicação do fenómeno é óbvia: a audácia destes novos heróis só desabrochou como rosas no esterco, porque o terror da política madeirense, o dr. Jardim, foi compulsivamente enviado para a reforma e, por conseguinte, já não intimida nem aterroriza ninguém. Desaparecendo o terrível “macho dominante” os novos heróis saíram de peito aberto dos seus acolhedores refúgios “pequeno-burgueses” e toca a arranjar 94 assinaturas, que são rapidamente fornecidas por ex-acagaçados que agora não têm receio algum em assinar. E com elas nas unhas, os novos “heróis” (também alguém lhes chama oportunistas) correm aos magotes ao “tacho” na Assembleia Legislativa Regional com a mesma determinação e arrojo com que migram as sardinhas na costa oriental africana.