Um alerta contra a apologia do pastoreio nas serras

Foto retirada da página pessoal no facebook
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Raimundo Quintal

A edição de 12.02.2015 do Diário de Notícias, com destaque na 1ª página e desenvolvimento na página 5, informa que os “pastores” da Madeira e Porto Santo estão a organizar um grande encontro para o próximo domingo (15.02.15) na Bica da Cana, onde esperam reunir cerca de 1.000 pessoas em defesa do pastoreio nas serras como forma de controlar a vegetação (pressuponho infestante), proteger a biodiversidade e a floresta.

Um dos organizadores, pertencente a uma associação de donos de ovelhas e cabras (conceito diferente de pastores) responsáveis pelo processo de desertificação que alastrou pelas serras de Santo António, São Roque e Pico do Areeiro, defende o “regresso do pastoreio controlado às serras, como forma de prevenção, entre outros, de fogos florestais…”.

Por coincidência ou porque as eleições regionais serão já no próximo mês, o CDS vai realizar a “Festa do Mundo Rural”, no mesmo local e no mesmo dia…
Entretanto, candidatos de outras forças políticas, têm vindo, por enquanto em privado, a defender o pastoreio nas serras da Madeira.

Porque o retorno das formações vegetais indígenas às terras altas da cordilheira central é crucial para o desenvolvimento sustentável da Madeira, entendo ser oportuno demonstrar, com o apoio de números e factos históricos, que é completamente mentira que o pastoreio contribua para evitar ou minimizar fogos florestais. Os maiores incêndios na Ilha da Madeira, desde o início do século XIX, ocorreram quando as serras estavam infestadas de ovelhas, cabras e porcos.

Com o objetivo de evitar que a mentira do pastoreio amigo da flora indígena volte a mascarar-se de verdade, envio, em anexo, o artigo da minha autoria “Pico do Areeiro – Ilha da Madeira. Uma experiência de recuperação da biodiversidade”, publicado em “Riscos Naturais, Antrópicos e Mistos”. Livro de Homenagem ao Professor Doutor Fernando Rebelo, Universidade de Coimbra, Coimbra: 849-866 (2013).

Aí está plasmada a minha opinião, resultante de muitos anos de reflexão teórica associada a trabalhos no terreno na companhia de amigos persistentes, sobre o estado atual das serras da Madeira e a estratégia para inverter o processo de desertificação no maciço montanhoso central.

O problema é muito sério e não se resolve com soluções produzidas em almoçaradas num ambiente de pressão eleitoral.