Sofia deixa SPM perplexo e à procura de líder Falta um professor na Assembleia para “disciplinar” o grupo

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Funchal Notícias – O que leva uma dirigente sindical a trocar um cargo de coordenadora do SPM por um lugar no Parlamento?
Sofia Canha – A vontade de alargar o debate político a outros níveis mais globais, a discutir política com dignidade, a credibilizar a classe política (se possível), a demonstrar que é importante, em democracia, que as pessoas se envolvam, se comprometam e coloquem as suas capacidades ao serviço dos outros também. Desde cedo que me envolvo em causas públicas. Primeiro a nível local, depois o campo foi-se alargando à medida que fui sendo confrontada com outras responsabilidades. Costumo dizer que os desafios me caem no colo. Tenho sempre duas hipóteses: rejeito por não me sentir capaz, ou acolho por sentir que poderei contribuir.

FN – Como reagiram os associados do SPM a essa decisão?
SC – Suponho que os associados foram surpreendidos, levando a diferentes reações, modeladas pela opinião que tinham da minha liderança. Até agora conheço apenas as reações dos elementos da Direção do Sindicato, que acolheram a notícia, dada por mim em reunião, com grande emotividade e até frustração, o que manifesta o apreço e reconhecimento no meu trabalho.

FN – Como comenta a crítica usual de que os dirigentes sindicais usam os sindicatos como trampolim para a política?
SC – Esse comentário poderá ajustar-se a algumas pessoas, mas não concordo com generalizações. Muitas vezes as pessoas escudam-se nesses comentários fáceis para justificar a sua inércia participativa, ou seja, não se envolvem, nem se disponibilizam e assim salvaguardam-se e não se expõem à crítica, que nem sempre é fácil de digerir. A sociedade madeirense não tem muita cultura participativa, infelizmente, e é sempre bom ter alguém que dê a cara e se exponha (mesmo que depois venha a ser criticado por isso) para dizer o que não se tem coragem de dizer publicamente e arcar com as consequências disso. O que eu acho é que estar na coordenação de um grande sindicato como o SPM dá muita visibilidade e muita tarimba, o que nos prepara para outros desafios mais amplos e exigentes.

FN – Em que situação deixa o SPM? Que alternativas se vislumbram?
SC – O Sindicato está “arrumado”, reconhecido e dignificado. Sempre foi e é uma mais-valia para a sociedade, mas sobretudo para a classe docente. O futuro será traçado pelos sócios e por quem se dispor a liderar. Espero que esta instituição fique nas mãos de pessoas com convicções e o fortaleça cada vez mais. É o sindicato que me representa.

FN – Considera que a sociedade madeirense valoriza o trabalho sindical?
SC – O trabalho sindical só é valorizado se for significativo. Há, de facto, muitas pessoas que só o valorizam quando precisam. E é pena que assim seja, pois os sindicatos lutam para que os direitos sejam acautelados, servindo, quase, como escudo protector. O não reconhecimento do trabalho sindical, mesmo que tenha uma função preventiva, é diminuir a influência e proteção dos trabalhadores, ficando estes mais à mercê dos interesses do patronato.

FN – Tenciona participar nas atividades de campanha da Coligação?
SC – Com certeza. Preciso primeiro de me organizar e garantir que o funcionamento do Sindicato está assegurado, contando para isso tanto com a equipa de dirigentes e com os funcionários que são de elevada competência.

FN – Na sua opinião, o que falta ao Parlamento regional?
SC – Primeiro falta um professor para “disciplinar o grupo” (ironia). Não conhecendo bem a orgânica e funcionamento do Parlamento, só poderei opinar. Penso que falta, no imediato, credibilizar a função de deputado e o próprio Parlamento. Aquele órgão democrático deve, por si só, ser o paradigma do debate plural, sério, respeitador das diferenças de opinião, aberto e um lugar de discussões significativas baseadas nas perspectivas ideológicas.

FN – Há quem considere que Vítor Freitas não deveria ser o nome a encabeçar a lista desta Coligação. Faltaria um candidato surpresa  do género Paulo Cafôfo. Como comenta?
SC– Enquanto líder do PS-Madeira, o Vitor Freitas tem toda a legitimidade para encabeçar a lista. O Vitor Freitas é, por isso, o legítimo elemento, se assim o entender. Por mérito próprio, adquiriu competências para a liderança e mesmo havendo discordâncias internas e externas em termos de estratégia política, o que é normal num partido democrático e tolerante, devemos respeitar. Nada garante, à partida, que os candidatos surpresa sejam boas surpresas.

FN – Qual o perfil que deverá ter o próximo secretário da educação?
SC – O próximo Secretário da Educação terá que ser um conhecedor da realidade no que concerne as matérias da educação e de tudo o que implica, mas terá que ter alguma utopia. Deve ser, então, prático mas visionário. Consistente e persistente. Que saiba “ouvir” a classe docente, mas agir em função do interesse coletivo e da sociedade.