Carlos Fernandes prepara bailado ‘Petrouschka’ para Julho

Carlos Fernandes

A Escola de Ballet Carlos Fernandes vai levar a cabo, em Julho deste ano, a apresentação do ballet ‘Petrouschka’, com música de Igor Stravinsky, no Teatro Municipal Baltazar Dias. A informação foi adiantada ao ‘Funchal Notícias’ pelo próprio Carlos Fernandes, que explicitou que as datas marcadas para a exibição deste espectáculo são os dias 11, 12, 13 e 14.

Para esta apresentação, Carlos Fernandes propõe-se trazer à Madeira um experiente coreógrafo britânico, John Auld, com um percurso digno de nota que já passou por Covent Garden. “Como ele já fez várias vezes o ‘Petrouschka’, inclusive em Portugal, convidámo-lo para supervisionar a produção”, explicou Carlos Fernandes.

‘Petrouschka’ é um ballet burlesco, dividido em quatro cenas, composto em 1910-11 e revisto em 1947. Stravinsky, o compositor, foi também o responsável pela elaboração do libreto, com Alexandre Benois. A coreografia esteve a cargo de Michel Fokine. Narra os amores e ciúmes de três marionetas numa feira em São Petersburgo, nomeadamente Petrouschka, (mais conhecido nos países latinos como Polichinelo), a bailarina e o mouro.

A par de ‘Petrouschka’, Carlos Fernandes está a ponderar também a possibilidade de inserir no espectáculo a apresentar em Agosto uma produção de ‘As Sete Mulheres do Barba Azul’, uma personagem que ficou conhecida por um conto de Charles Perrault, o mesmo autor de ‘Pinóquio’. ‘Barba Azul’ é uma história trágica, que mais tarde inspirou uma obra de Anatole France, numa versão em que as sete esposas deste nobre vão desaparecendo umas após as outras em estranhas circunstâncias que o colocam como suspeito. Em princípio, o orador nesta produção de dança deverá ser João Carlos Abreu, sendo as sete mulheres interpretadas por bailarinas.

Antes de ‘Petrouschka’ ou ‘Barba Azul’, o espectáculo deverá começar com uma apresentação das alunas mais jovens (crianças) da Escola de Ballet Carlos Fernandes, que actualmente tem, no total, cerca de uma centena de alunos. Não há rapazes, o que Carlos Fernandes admite ser resultado de um preconceito: “Aqui na Madeira ainda existe. Fora da Madeira já não. Nem sequer em Portugal continental”. A tal ponto que o prestigiado bailarino madeirense, que já trabalhou com o ballet Gulbenkian, já chegou a ponderar abrir classes de iniciação gratuitas para rapazes, para tentar cativá-los para o bailado. A inexistência de parceiros masculinos para as bailarinas é, para elas, também limitativo, confessa.

Carlos Fernandes

Já em ‘Petrouschka’, apesar de existirem três bonecos centrais, há muitas mais personagens em palco, com guarda-roupa multifacetado, o que torna a produção bastante atractiva.

Os principais protagonistas são Gonçalo Sousa (Petrouschka), Francisco Rosseau (Mouro) e Sofia Silva (Bailarina).

‘Petrouschka’, sublinha Carlos Fernandes, é um bailado que nunca foi apresentado na Madeira.

Esta produção enquadra-se no âmbito da produção escolar. “Há muitos bailarinos de carácter, e como já fiz esta produção com o ballet Gulbenkian, pensei que seria interessante desenvolvê-la para a escola, que em Julho completa já 30 anos – apesar de muita gente ainda não a conhecer”. Fernandes deixa transparecer não se sentir recompensado pelo esforço desenvolvido: “Não tenho muita ajuda, o problema é esse”, admite. Não tem apoios, nem oficiais nem de privados. “Não há dinheiro”, constata com fatalismo. A Escola vive apenas com as mensalidades pagas pelos alunos. “E tenho uma caixa de correio onde só entram as cartas das Finanças – não entra outra coisa”, lamenta.

O nosso interlocutor e a sua escola, que dirige com sua mulher, Marta Atayde, já foram responsáveis por colocar alunos em companhias tão prestigiadas como o Royal Ballet de Londres ou em companhias de Monte Carlo. Mas nem por isso conta com apoios financeiros.