Acordo de pescas da EU abre novas áreas de captura: primeiro espadeiro madeirense já pescou em Marrocos

Navego
“Navego”, o primeiro espadeiro madeirense a pescar em Marrocos.

Helena Mota

Partiu no passado dia 25 de janeiro rumo à zona económica exclusiva de Marrocos para aquela que é a primeira incursão oficial dos barcos de peixe-espada preto madeirenses em águas de países terceiros. A embarcação “Navego”, com onze tripulantes a bordo sob o comando do armador e mestre José Pereira, inaugura assim aquela que se espera ser uma nova etapa no sector regional das pescas. Esta primeira experiência está a ser acompanhada pela Direcção de Serviços de Controlo da Actividade da Pesca que monitoriza a embarcação através do diário de pesca electrónico e do sistema de localização mais conhecido por “caixa azul”. Os resultados, esses, serão alvo de análise após a chegada do “Navego” à Lota do Funchal, no final da semana, em parceria com a Direcção de Serviços de Investigação e Desenvolvimento das Pescas, que procederá ao estudo do pescado capturado quanto ao tamanho e estado de maturação. A intenção é apurar da viabilidade e potencialidades da nova zona de captura, em termos de “stock” de peixe-espada preto.

Fase de prospecção

Segundo dados da Direcção Regional de Pescas, o espadeiro de Câmara de Lobos iniciou o lançamento dos anzóis a 27 de janeiro, após vistoria por parte das autoridades marroquinas, tendo capturado uma quantidade ainda por apurar daquela espécie de grande profundidade. Para as autoridades regionais, trata-se de um indicador animador, na medida em que comprova a existência daquele recurso fora das águas nacionais e europeias. “É normal que esta primeira tentativa não resulte em grandes quantidades, dado o seu caráter de prospecção. A área é enorme e ainda desconhecida dos pescadores madeirenses”, explica o director dos Serviços de Controlo da Actividade de Pesca. Nuno Gouveia louva, porém, a iniciativa do armador do “Navego” face aos custos associados à operação e à incerteza das capturas nesta primeira fase. “É um risco grande, porque embora se saiba que existe a espécie naquelas áreas, desconhece-se o estado do “stock” e em que zona em que ele se encontra”, esclarece.

Apesar de não ter havido contacto direto das autoridades com a tripulação, sabe-se que o “Navego” se encontra já a pescar em águas nacionais, nas zonas tradicionais de exploração, de forma a rentabilizar a operação, devendo chegar ao porto do Funchal no final da semana.

 Licenças pagas pelos armadores

 Novas oportunidades de exploração comercial e diminuição da pressão de captura sobre as reservas de pescado próximas do arquipélago são os factores que levam as autoridades regionais a olhar com interesse e a apoiar a ida de barcos madeirenses a pescar em Marrocos. Nuno Gouveia espera que os estudos sobre esta e outras operações futuras permitam apurar com maior clareza quais as zonas e as épocas de maior rentabilidade, de forma a incentivar mais empresários a rumarem até águas marroquinas.

“À semelhança do que acontece já com Canárias, espera-se com este novo acordo alargar as potencialidades de pesca do peixe-espada preto e melhorar os resultados das capturas anuais na Madeira”.

Neste momento, há outros dois armadores madeirenses interessados nesta nova opção permitida pelo acordo de pescas entre a União Europeia e Marrocos, um deles já com os trâmites legais concluídos e licença paga. O custo das operações decorrentes deste acordo é suportado em parte por apoios comunitários e pelos próprios armadores. No caso dos espadeiros madeirenses, a licença de exploração para pescar em Marrocos tem um custo entre os dois e os três mil euros trimestrais, valor calculado em função da capacidade do navio.

O acordo de pescas entre a União Europeia e Marrocos vem permitir que 126 embarcações de pesca dos vários Estados Membros tenham acesso a uma maior área de captura. O segmento que mais interessa à Madeira, designado por “Pesca Artesanal Norte”, está aberto a sete palangreiros de fundo até 40 GT (arqueação do barco), classe em que se inserem os espadeiros madeirenses.